2011/09/07

Dentro

Hoje ela acordou mais triste, mas sabia que aquela tristeza antevia dias mais claros, horas menos embaçadas. Hoje ela quase não pôde pedir ajuda, mas as que pediu serviram para que ela entendesse que todas as pessoas escolhem permanecer ou não e, por muito que nela isso amargasse a boca, alguns simplesmente não queriam ficar, ou não conseguiam. Das ajudas que não pediu há muito havia deixado que fossem embora e agora tudo se tornava mais nítido, à medida que via melhor a boca amargava mais, mas a dor a fazia enxergar tanta coisa.
Amar dói, até amar a nós mesmos machuca. Mas estava fazendo o que julgava ser o direito.
Naquele dia ela escolheu amar a si antes de amar o outro, antes de amar qualquer outro. Naquele dia ela foi mais triste para poder ser mais feliz.
Dias depois, ela nem soube quantos, cada coisa foi tomando e está tomando o seu lugar. Nesse mesmo dia cada pessoa escolheu estar exatamente onde deveria ter estado o tempo todo. Na parede da memória os lugares parecem mais seguros, mas são imóveis. Aqueles que escolheram estar no intocável acabaram ficando no álbum de fotografias velhas. Ela não olha mais as lembranças, ela não conta mais o tempo, ela ficou com quem escolheu ficar. Dentro.

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