2009/10/27

Monóculo

Na confissão do dia uma noite que terminou bem. Acreditar no bem era, àquela altura, quase uma profissão de fé. Mas não há fim, só um instante contente, daqueles pelos quais os momentos felizes se configuram. O in the end é apenas o princípio, ingrato ou grato, não se sabe ... mas é por onde se faz recomeçar. Confesso, derramando obviedades: as cartas foram deitadas à mesa nas instâncias mais urgentes, tangentemente eu senti alívio - era como se o limiar de cada coisa se mostrasse gentil à noite. - Eu via um retrato por um monóculo. Tinha um olhar condescendente, aumentava diante dos meus olhos: é o bem que eu fiz, pensei. E é assim, diante dos meus olhos ele se vai aumentando, mas por entre os meus dedos ele é menor que um negativo fotográfico. Depois pensei que fosse o retalho de alegria sugerida pelo fim da noite. Se faz pequena a depender da minha maneira de olhar, eu olho de perto, aumenta, tanto que a imagem se desfaz, embaça ... me olha assim enviesada. Quem olha? O pedaço de alento me olha. Eu olho. Enxergo luz, tanta luz que a minha vista desconstrói a imagem. Talvez eu leia de novo o SEU Jorge de Sena, ele me diz todos os dias: 'O mais seguro, porém, é não recomeçar.'

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