2009/09/17

CIDADE FRIA

Ao meu grande amigo ... com carinho, açúcar e afeto. Na esperança de que tudo se encaminhe para um happy end. (Pela amizade concreta, regada a sucos, risadas, questionamentos e vida!)


Do meio da frieza daquela cidade, a gentileza da xícara de café servida na cama precedia o primeiro cigarro e o primeiro beijo. Anunciava as cores que o dia teria, cores roubadas de você.
Mas era quando você se despedia, era aquele o momento em que a cidade assumia todo o cinza, toda a tristeza, toda a chuva que a sua ausência deixava.
Ao inferno os segredos europeus da cidade, às ruínas a sua gente indiferente. Toda a distância cruelmente edificada entre nós tornava aquela terra inabitável, ao menos para mim.
Nosso amor era jovem e cheio de planos, tal como os amores jovens devem ser. Me lembro de passar horas olhando os seus cabelos, procurando a melhor forma de enrolar-me a eles. Eu podia me perder entre os teus olhos e boca, tão simétricos, doces como a juventude que desenhava o seu corpo.
Foi a cidade nua que me fez triste, depois frio. Aquela capital cheia de uma multidão impiedosa não era capaz de entender o vazio de você. Roubou-nos o desejo de amar e com ele vi o amor ser desconstruído. Se esvaindo entre uma briga, um choro e um pedido de socorro.
Só sei dizer que entre os clichês mais odiosos está a nossa impotência frente à distância. Tão odioso quanto verdadeiro. Eu podia tocar meu desespero.
Não se trata com tanta indelicadeza um amor jovem. Não se mata de tanto amar esse mesmo amor. Não se escapa ao peso da vida, ainda que se tenha a juventude a favor.
A cidade fria levou consigo quem eu era, deixou aqui alguém que não reconheço e, entre as tantas dores deixadas, a maior de todas não foi perder-te, mas ver ir contigo tudo o que se vai quando um amor acaba.
À juventude que ainda nos restou, às possibilidades de nossos caminhos não seguirem paralelamente até o fim, à volta para casa eu devo a vida que ainda tenho nas mãos. Na cidade gris ficou um cemitério, sob o sepulcro somente os ossos ressequidos de alguém que não deixou saudades, felizmente está morto.

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