2012/02/19

Doce

Umas três da tarde, talvez mais. Não importa, importante mesmo é dizer que fiz um bolo que deixou a casa cheirosa, enquanto assava tomei um banho demorado e frio ao som de Morcheeba. Ritual lento. Um vestido bonito e o cabelo arrumado, um par de saltos pequenos e uma cobertura de chocolate com cerejas em calda. Doce.
O bolo ainda quente, o corpo ainda frio, umas três gotas de baunilha e um esguicho de perfume. A porta abriu, passos lentos:
- Estava terminando de colocar as cerejas, quer?
Abriu a boca em tom de afirmação, lambeu meus dedos e antes que eu oferecesse qualquer coisa aceitou o convite de botão a botão me colocar nua diante dos olhos.
A mesa. O chão. Um cigarro.
Eu não tirei os saltos porque combinavam com a roupa íntima, há de haver qualquer vaidade na nudez. De tanta língua e tato, de tanta pele e cor, Morcheeba convertido em I want you, Portishead, Nina Simone, Frank Sinatra, Maria Bethânia cheirando tesão.
Cama. Banho. Chão, todo o chão. Os dedos sujos de chocolate e uma cereja na boca, mais um cigarro.
Back in Black, Futuros Amantes, o esgotamento é a felicidade da mulher que espera todos os dias o seu homem chegar para dar de comer a todos os seus desejos.