2010/06/04

À nossa maneira

‘De todas as maneiras que há de amar nós já nos amamos’ - ouço a canção -. Durmo sangrando. Conheço todas as tuas maneiras de amar, das discrições dos teus apelos aos teus silêncios escancarados. Não conheço nada mais além de todos os nossos amores, mas a tua boca é o país onde impero soberana e do meu corpo você é quem sabe toda a nudez, pelas ruas a nudez - você é quem sabe -.

Eu sei do teu silêncio e me calo. Vez ou outra digo aos teus ouvidos um beijo, enroscando os meus dedos aos teus, beijo e silêncio. Conheço a tua tristeza, dói. Tenho a pele cortada pela lágrima que escorre da tua dor e cai em minha boca. Silêncio. Calo e aperto os teus dedos, beijo outra vez a tua mudez e peço que durma em meu corpo, amando em dor. À tua maneira.

Quando falas muito e ri de tudo, quando me conta qualquer coisa em que caiba um beijo, um riso, uma canção ou poesia. Quando estás fogo e és ternura. Eu rio, você mar. Não há maneira de não te amar, me encaixo no meio do riso e te calo com a língua. Boca inteira. E até você dormir nós vamos, de riso em brasa, calar palavras, falar gestos, ler olhos e alma, vamos amar até o fim. À nossa maneira.

Mas é da tua tensão, dos dias de explosão, do meio de todo o cansaço e da vontade que o dia termine que eu sou desdém, desfaçatez provocada. Quando tudo o que desejas é o aborto das horas eu sou graça, arranco, riso a riso, a salvação do que sobrou do dia para assim salvar o meu. E na quase violência da agrura das horas, você impõe o melhor amor de todos, de todas as maneiras que há de amar. Rasga a minha pele dente a dente e governa o corpo que desde muito só sabe ser amado à tua maneira.

Conheço as tuas delicadezas e os teus abusos, quando atravessado em tristeza ou irritação eu te amo em doçura. Sei do que esconde para que eu não sinta dor, finjo, amando, não notar. Conheço cada sujeira dita aos meus ouvidos e peço, noites a fio, que me ame de todas as maneiras que há de amar.